“Mais um não vai engordar”, eu dizia. Só mais um. Mas não. Seria um ultraje à minha própria sabedoria tentar me enganar. É um mundo difícil para uma garota independente. Independente de toda e qualquer vida saudável, independente de esforço e dinheiro para academia. E o fim, para os que ainda acreditam no prazer de comer, seria sempre trágico. Eu ainda pensava “mais um, depois do café”. Não. Apenas o café. O café que já estava terminando.
Eu sei, eu sei, torturo minha cabeça loira com revistas de moda e roupas que ainda quero que sirva. É uma antiga tática. Compre uma jaqueta linda, mas um número a menos. Não é difícil presumir que duas horas depois da aquisição estará pagando seus pecados da carne com horas de esteira. E não falo de carne branca. Sendo assim, mais e mais horas de esteira. No fim, a jaqueta sempre cabe. Fica meio justa, meio fora de estação, mas cabe. É a sensação de dever cumprido, meta atingida e um certo bem-estar. Quando estamos magras, sempre fingimos que o mais importante é estar saudável, embora comeríamos duas caixas de chocolate caso não engordasse.
A questão agora era o depois do café. O café que já se tornara “antes” e o “depois” que parecia longe. Eu não podia comer nada depois do café. Mesmo que não engordasse, me sentiria gorda. Podemos ficar quatro horas seguidas na academia dando tudo de nós, mas se comermos aquele croissant a mais… Ah, minha amiga. Sentimos que precisamos de mais daquelas quatro horas. “Porquê isso?”, eu vinha me perguntando naquela manhã. Os quilinhos a mais estão na nossa imaginação. Estar gorda é psicológico.
Sabendo o funcionamento da psiquê feminina, masculina, enfim… Humana… Chego numa conclusão: Nós buscamos constantemente a punição. A punição como forma de redenção, como forma de desagrado, mas com regalias a longo prazo. Se comermos aquele mesmo croissant a mais depois do café, vamos querer compensar com algum tipo de vacuo alimentar. Repondo o que comemos a mais, certo? Errado. Estamos sempre buscando compensar em dobro aquilo que fizemos de errado. Comi um croissant indevido? Deixarei de comer dois. Afinal, o que adianta comer algo e substituir o mesmo? Nada mais é do que manter-se estagnada, parada no mesmo ponto calórico.
E eu contava as últimas gotas do café. Bebericava, passava pelos lábios, virava o recipiente mesmo com a total consciência de que ali nada havia. Foi então que pensei: “De que adianta me torturar?”. Me torturar sentada. Levantei, arrumei o que fazer e me torturei em movimento. Pelo menos em movimento gastava calorias. Sabe o que é o mais interessante em gastar calorias? Praticamente qualquer coisa gasta calorias. A pessoa pode remexer descontroladamente todos os músculos do seu corpo por alguns instantes e pronto, lá se vai o croissant. Aliás, devia parar de falar nele. Em todo caso, o que nos ocorre é uma preguiça descomunal. Nestes momentos o que pesa, além da nossa barriga, bunda e coxas, é a cosciência. Estamos totalmente ativas, embora para um observador desavisado pareça que estamos assistindo televisão ou algo do gênero. Nossa mente, constantemente, nos lembra daquilo que deveríamos estar fazendo, mas não o fazemos por preguiça. Se malhassemos tudo o que pensamos que deveríamos malhar, não precisaríamos nos preocupar com comida.
Nesse meio tempo, entre o fato e a superstição, a neura e o comodismo, existem alguns produtos são implementados ao nosso dia-a-dia. São eles, os produtos “light” (com seus derivados “diet”, “zero” e outros afilhados perdidos). O quão significante seria trocar uma manteiga comum, por uma light? Parece idiota, afinal, ingerimos aquela fina camada que passamos no pão. Esses pequenos detalhes nos trazem um sentimento de perda. De peso, no caso. Engraçado como nossa cabeça bem penteada e produzida pensa neste momento. Comer uma coisinha a mais é motivo de desespero, mas eximir da nossa refeição uma pequena parcela calórica, é dignificante. Além disso, todo e qualquer resultado benéfico posterior é devido a isso, óbvio.
Pensar em comida é inevitável. Quando a pessoa quer emagrecer, tudo faz com que ela lembre do que está ou não ingerindo. Afinal, se eu disser pra você “não pense no vermelho”, no que você irá pensar? Por isso que o “não pense na comida” nunca funciona. O que fazemos? Enrolamos. Enrolamos o quanto podemos. Enrolamos e tentamos chegar em alguma conclusão para as nossas vidas. Se eu cheguei em alguma? Não sei. Só sei que fez eu esquecer o café.
G.
Os pecados da carne
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009 by Joaninha de Sutiã
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3 comentários:
A última e a penúltima postagens são muito legais... bom saber algumas coisas pela visão feminina hihihi =P
Bom blog, sucesso pra vc!
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Nossa seu texto tá meio embaralhado, fica difícil ler assim. Sugiro que sepera em parágrafos, o torna a leitora mais agradável.
;)
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TE CUIDA!!!
BOM CARNAVAL PRA TI!!!
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